Quando o Sol começou a
respirar seus primeiros raios dourados, a Pequena Ladra despertou. Correndo,
caíra em algum lugar que não sabia onde era. Perdera algumas chaves pelo
caminho, mas já não podia se importar. Ferira a Mulher Ruiva e fugira. Também
já não sabia mais como voltar e nutria medo.
Pisava devagar na relva do
chão. Não podia fazer barulho. E se a encontrassem? De repente, ao longe, uma fumaça branca surgiu
e, com ela, o som tão característico... Mas não havia trem! Assustada, apressou o
passo. Acreditava estar perto dos trilhos, mesmo tendo uma vaga lembrança de
que havia corrido para o lado oposto deles.
Um estalo.
A Pequena Ladra tropeçou e
caíra, novamente, no chão. Teve vontade de chorar, mas não podia. Ninguém a
consolaria e não se tornaria mais ou menos forte por expelir umas gotas de água
pelos olhos. Foi então que percebeu: tropeçara em uma maçaneta.
- Uma maçaneta no chão? Por
que teria uma maçaneta...
Naquele exato lugar já não havia
grama. Apenas areia e algumas pedras. De fato, era de se estranhar. Em meio àquele vazio da paisagem, um grande círculo de terra escura e, bem ao centro,
um brilho prateado. Aquele mistério foi o suficiente para dar vida aos olhos curiosos e roxos da Pequena Ladra.
Tentou girar a maçaneta, mas
não conseguiu mover nada do lugar. Com o dorso da mão direita, afastou um pouco
a terra que estava ao redor e percebeu, então, que a terra escondia um enorme e
redondo pedaço de vidro. Parecia ser um relógio, mas onde estariam os
ponteiros? Olhando mais perto e através daquilo, viu, em um breve momento,
parte de um estofamento vermelho e velho.
Então, escutou novamente o
barulho de trem, como se estivesse se aproximando, e sentiu cheiro de combustão.
Ergueu-se observando a sujeira de suas mãos. Respirou fundo. E foi quando ouviu
o grito de outra alma, ao longe, sendo sacrificada, que fechou os olhos. Essa
havia sido ofertada de forma diferente... Essa alma jovem era de uma menina mais nova que ela e de
cabelos louros. Alguém lhe serrava o pescoço. Conseguiu sentir os tendões dela
sendo arrebentados. O cheiro de sangue misturado ao da fumaça branca. Respirou
fundo. O gosto do sangue...
Em um sobressalto,
lembrou-se do senhor cego. Havia prometido. Precisava encontrá-lo! Promessas servem
para serem quebradas, mas a Pequena Ladra sempre cumpria com sua palavra, mesmo
que não explícita.
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