sábado, 17 de janeiro de 2015

Capítulo V


   Quando o Sol começou a respirar seus primeiros raios dourados, a Pequena Ladra despertou. Correndo, caíra em algum lugar que não sabia onde era. Perdera algumas chaves pelo caminho, mas já não podia se importar. Ferira a Mulher Ruiva e fugira. Também já não sabia mais como voltar e nutria medo.
   Pisava devagar na relva do chão. Não podia fazer barulho. E se a encontrassem? De repente, ao longe, uma fumaça branca surgiu e, com ela, o som tão característico... Mas não havia trem! Assustada, apressou o passo. Acreditava estar perto dos trilhos, mesmo tendo uma vaga lembrança de que havia corrido para o lado oposto deles.
   Um estalo.
   A Pequena Ladra tropeçou e caíra, novamente, no chão. Teve vontade de chorar, mas não podia. Ninguém a consolaria e não se tornaria mais ou menos forte por expelir umas gotas de água pelos olhos. Foi então que percebeu: tropeçara em uma maçaneta.
   - Uma maçaneta no chão? Por que teria uma maçaneta...
   Naquele exato lugar já não havia grama. Apenas areia e algumas pedras. De fato, era de se estranhar. Em meio àquele vazio da paisagem, um grande círculo de terra escura e, bem ao centro, um brilho prateado. Aquele mistério foi o suficiente para dar vida aos olhos curiosos e roxos da Pequena Ladra.
   Tentou girar a maçaneta, mas não conseguiu mover nada do lugar. Com o dorso da mão direita, afastou um pouco a terra que estava ao redor e percebeu, então, que a terra escondia um enorme e redondo pedaço de vidro. Parecia ser um relógio, mas onde estariam os ponteiros? Olhando mais perto e através daquilo, viu, em um breve momento, parte de um estofamento vermelho e velho.
   Então, escutou novamente o barulho de trem, como se estivesse se aproximando, e sentiu cheiro de combustão. Ergueu-se observando a sujeira de suas mãos. Respirou fundo. E foi quando ouviu o grito de outra alma, ao longe, sendo sacrificada, que fechou os olhos. Essa havia sido ofertada de forma diferente... Essa alma jovem era de uma menina mais nova que ela e de cabelos louros. Alguém lhe serrava o pescoço. Conseguiu sentir os tendões dela sendo arrebentados. O cheiro de sangue misturado ao da fumaça branca. Respirou fundo. O gosto do sangue...

   Em um sobressalto, lembrou-se do senhor cego. Havia prometido. Precisava encontrá-lo! Promessas servem para serem quebradas, mas a Pequena Ladra sempre cumpria com sua palavra, mesmo que não explícita.

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