domingo, 11 de janeiro de 2015

Capítulo IV


Ao entardecer, as lamparinas começavam a acender suas luzes fracas em torno dos trilhos abandonados. Tudo o que era movimento acabou por se esconder atrás do matagal alto e amarelado para manter a sobrevivência naquele lugar.
A pequena Ladra batia forte suas botas sujas nos cascalhos do caminho do trem. Cada passo era uma gota de sangue que escorria no rosto do senhor da cartola. Quis chorar, mas já não tinha tempo e enquanto alguém gritava o sangue do sacrifício, a Pequena Ladra ouviu o seu nome. Com medo, virou-se.
Atrás de si encontrava-se uma mulher de cabelos cor de laranja e lisos. Carregava uma bússola presa na carne do pescoço, na altura da jugular. Alguém a havia machucado, mas já não lembrava. Apenas sabia que se retirasse dali aquele objeto que a infeccionava lentamente, seriam quatro minutos espirrando sangue e nunca mais veria a Pequena Ladra.
A Pequena Ladra virou-se de cabeça baixa. Não disse palavra alguma. Escondeu a manga suja de sangue.
- Mocinha, se eu sei o teu nome, tu sabe quem eu sou. Diga quem eu sou!
Não disse palavra alguma.
- Mocinha! Está na hora.

A Pequena Ladra abaixou-se devagar. Uma lágrima escorreu pelo seu queixo - não queria ter de fazer aquilo... De dentro da sua bota encardida, retirou um pequeno canivete. E foi o tempo da moça ruiva sentir a rajada de vento quente em seu rosto para que sua coxa sangrasse em um urro inaudível. Enquanto isso, a menina já estava longe, correndo por um caminho diferente daquele que o trem costumou fazer.

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