domingo, 22 de março de 2015

Capítulo XII



O Homem Cego, mesmo sem enxergar, fizera alguns cálculos com base no ponteiro do suposto relógio que era aquela porta no chão. Pisando em alguns pontos específicos, de repente, um buraco fez-se sob os pés dos dois, mostrando, finalmente, a passagem.
- Que barulho foi esse, mocinha?
- O senhor conseguiu! O senhor descobriu! - disse a Pequena Ladra pulando feliz e abraçando o Homem Cego.
Com cuidado, ela colocou a cabeça para dentro do buraco a fim de descobrir o que tinha ali. Voltando a cabeça à superfície, a Pequena Ladra deitou a cabeça na grama rala.
- O senhor está a fim de passear?
- Para onde iremos dessa vez? - perguntou o Homem Cego.
- Um passeio de trem. O senhor gosta de trens?
- Mas, mocinha, nós não temos dinheiro para comer! Como iremos viajar de trem?
- O senhor gosta de trens? Eles fazem barulhos legais e cheiram gostoso. E a fumaça abana pra nós tão forte, nos chamando para viajar. Vamos viajar, senhor? Por favor?
Assim, a Pequena Ladra ajudou o Homem Cego a atravessar o buraco e o seguiu logo após. De um lado, um céu enorme e grama rala; do outro, o banco estofado de um trem, pronto para partir.
A menina sentou-se contente e ansiosa. Finalmente iria se libertar de tudo o que a consumia. Fugiria para tão longe que jamais precisaria se preocupar com o que havia vivido até então. Quem sabe até poderia se esquecer das engrenagens estampadas em sua pele...
O Homem Cego sentou-se na frente dela e batia os ossos da mão direita nos ossos da mão esquerda. Não sabia o que aguardava que acontecesse exatamente. Então, o início do caminho que se engole pelo movimento.

O trem corria. O barulho metálico explodia nos tímpanos dos dois. O estofado vermelho brilhava o cheiro de novo. A Pequena Ladra estava feliz e se sentia segura - pelo tempo da viagem, ao menos.

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