Chegando a um dos pontos de
desembarque, o Homem Cego disse para a Pequena Ladra que achava melhor
descerem. A Nova Passageira não estava mais com eles. A menina apenas
concordou. Estava cansada de ver as horas passando e sentia-se febril.
Ninguém descera com eles.
Fora do trem, uma multidão aguardando outro destino. Ninguém falava. Havia
muitas pessoas e, consumida por um delírio inicial, a Pequena Ladra pôs-se a
pechar em todos e a furtar todas as chaves que conseguia. O Homem Cego estava distante
e a chamava baixinho, do seu jeito. De repente, um barulho seco de um corpo que
tomba. Não foi preciso mais do que isso para que, firmemente, os passos do
Homem Cego fossem ao encontro do corpo da Pequena Ladra que havia desmaiado.
Ele a pegou no colo e gritou por ajuda, mas ninguém nem sequer olhou para eles.
Ele gritou um pouco mais e, como ninguém lhe respondia, começou a chorar.
O Homem Cego sentiu medo
pela primeira vez. Não poderia abandonar a menina - era tudo o que ele tinha -,
mas precisava. Levantou-se e, tateando, saiu sem rumo. Ao encostar nas pessoas,
pedia ajuda; contudo, nenhuma delas mostrou sua voz, ou reação sequer.
Por alguns segundos,
detestou-se por ter furado seus olhos. Entretanto, entendeu que se não fosse
por esse evento, aquela menina jamais teria uma família ou alguém que zelasse
por ela e, por este motivo, decidiu voltar para ajudá-la.
Foi apenas o tempo de
voltar-se e dar dois passos, que a menina o abraçou. Abraçou da mesma maneira
que o abraçara na primeira vez em que roubara as chaves.
- Senhor, posso lhe pedir um
favor?
- Claro, mocinha! O que
queres?
- Não me abandone, está bem?
Minha mãe já fez isso. Você furou seus olhos. Não me deixei só por eu ser
doente e estranha.
- Mocinha, eu vejo os seus
olhos roxos o tempo todo. Eu...
Um cheiro forte de combustão
interrompeu o que o Homem Cego iria dizer. Não era preciso terminar: a Pequena
Ladra entendera.
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