Mesmo debilitada, a Pequena
Ladra pegou a mão do Homem Cego e, juntos, foram conhecer aquela cidade
estranha. A cada passo, escutava-se o barulho das chaves. Olhando as
engrenagens da cidade, a Pequena Ladra sentiu um pouco de medo e confessou ao
homem cego.
- Por que ter medo, mocinha?
- Tudo dá errado quando
aparecem engrenagens. Comigo foi assim!
O Homem Cego ficou em
silêncio por um tempo. Recordou-se do dia em que furou seus olhos e tentava se
lembrar do motivo que o levara a fazer aquilo além dos olhos roxos da menina. De repente, a menina, que caminhava
curiosa, parou.
- O que houve? - perguntou o
Homem.
- Acho que escolhemos o
lugar errado para descer do trem.
- Por quê? O que houve?
- Ela sabe meu nome.
- "Ela" quem, mocinha?
Segurando forte a mão do
homem, a Pequena Ladra começou a guiar a direção.da caminhada. Ela não sabia
para onde estava indo, mas sabia o que tinha de fazer quando via a Mulher Ruiva. E ela
estava lá, por algum motivo desconhecido. Então, a Pequena Ladra começou a ter muita
dificuldade de respirar e sentou-se ao chão.
- Você vai me contar o que
está acontecendo ou não? - perguntou o Homem Cego.
- Eu não posso. Ela sabe meu
nome. Ela conhece meu rosto.
- Quem sabe do quê, mocinha?
Com dificuldade, ela foi explicando:
- A M... Mulher Ruiva! Ela está
atrás de mim... faz um tempo. Desde que... surgiram as engrenagens... no meu rosto. Não
é minha culpa... ser assim, senhor! Eu não... era assim. Eu não... tinha olhos roxos.
Mas quando eu... fiz doze anos, algumas... coisas mudaram comigo e... a M... Mulher Ruiva
sabe... de tudo. Ela quer me... matar, por eu ter destruído a vida dela, mas... eu não
quis... Não queria... Eu não... sabia. Eu não era... assim!
O Homem Cego ficou realmente
preocupado. Por que a Mulher Ruiva queria matar aquela menina? Por que ela
falava tanto em engrenagens? Por qual motivo seus olhos se tornaram roxos? Precisava encontrar um médico para ajudá-la a respirar.
Exatamente em meio a esta
explosão de questionamentos, a Mulher Ruiva apareceu por trás deles e, segurando o braço direito do Homem Cego, cochichou algo em seu ouvido. Quando ele começou a gritar que
não se importava e que não queria saber, a menina já estava longe, correndo em
fuga. Apenas os olhos verdes da Mulher Ruiva alcançavam o distanciamento.
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