Já era noite feita e lá
estava a Pequena Ladra em frente ao banco onde deixara o Homem Cego com sua
cartola. Atrasada em muitas horas. Ali, parada em frente àquele que havia
suicidado sua visão, manteve-se em silêncio. Ele havia esperado a mocinha e ela
não acreditava. Não entendia porque alguém podia querer esperar pela sua
presença.
O Homem Cego “olhava” para
os lados com certa impaciência, como que procurando a menina que não chegava
nunca, mas que estava lhe observando a poucos passos. Atordoada por aquela cena
e engolindo algumas lágrimas fugitivas, resolveu fazer sua voz ecoar algum som
frente àquela ausência de.
- Você ficou me esperando...
- engasgou.
- Mocinha! Você finalmente
chegou! Já amanheceu?
Envergonhada, não queria
dizer-lhe que demorara muito tempo a mais, embora não planejasse mentir para
aquele homem.
- Perdi o amanhecer, senhor.
Dormi demais e me atrasei.
- Ah! - exclamou - não tem
problema... Eu só estou com fome e...
- Você não vai procurar sua
família? - interrompeu a Pequena Ladra.
- Perdi a chave de casa.
A Pequena Ladra colocou a
mão em seu bolso, mas não tinha como adivinhar qual daquelas pertencia ao Homem
Cego.
- Eu realmente estou com
fome. - repetiu.
A Pequena Ladra poderia
esperar amanhecer novamente para tentar roubar algum pedaço de pão da padaria
não muito longe dali... Mas seriam horas longas e não tinha tempo. A Mulher
Ruiva viria buscá-la e ela não poderia esperar.
- O senhor tem medo do
escuro?
- Se eu tivesse, estaria
desesperado nesse momento, não é? - disse, apontando para os olhos.
- Tenho um lugar onde
podemos ir. Não é aqui na cidade. Deveremos encontrar comida... Ou, senão,
podemos mastigar a grama. Faço isso há anos e estou viva! Vês?
Em um segundo, a Pequena
Ladra deu-se por conta que repetira o erro de esquecer que o Homem Cego não
podia mais enxergar.
- O que você vê?
- Eu não sei. - disse ele
colocando a cartola na cabeça e se erguendo do banco.
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