domingo, 1 de fevereiro de 2015

Capítulo VII


Já era noite feita e lá estava a Pequena Ladra em frente ao banco onde deixara o Homem Cego com sua cartola. Atrasada em muitas horas. Ali, parada em frente àquele que havia suicidado sua visão, manteve-se em silêncio. Ele havia esperado a mocinha e ela não acreditava. Não entendia porque alguém podia querer esperar pela sua presença.
O Homem Cego “olhava” para os lados com certa impaciência, como que procurando a menina que não chegava nunca, mas que estava lhe observando a poucos passos. Atordoada por aquela cena e engolindo algumas lágrimas fugitivas, resolveu fazer sua voz ecoar algum som frente àquela ausência de.
- Você ficou me esperando... - engasgou.
- Mocinha! Você finalmente chegou! Já amanheceu?
Envergonhada, não queria dizer-lhe que demorara muito tempo a mais, embora não planejasse mentir para aquele homem.
- Perdi o amanhecer, senhor. Dormi demais e me atrasei.
- Ah! - exclamou - não tem problema... Eu só estou com fome e...
- Você não vai procurar sua família? - interrompeu a Pequena Ladra.
- Perdi a chave de casa.
A Pequena Ladra colocou a mão em seu bolso, mas não tinha como adivinhar qual daquelas pertencia ao Homem Cego.
- Eu realmente estou com fome. - repetiu.
A Pequena Ladra poderia esperar amanhecer novamente para tentar roubar algum pedaço de pão da padaria não muito longe dali... Mas seriam horas longas e não tinha tempo. A Mulher Ruiva viria buscá-la e ela não poderia esperar.
- O senhor tem medo do escuro?
- Se eu tivesse, estaria desesperado nesse momento, não é? - disse, apontando para os olhos.
- Tenho um lugar onde podemos ir. Não é aqui na cidade. Deveremos encontrar comida... Ou, senão, podemos mastigar a grama. Faço isso há anos e estou viva! Vês?
Em um segundo, a Pequena Ladra deu-se por conta que repetira o erro de esquecer que o Homem Cego não podia mais enxergar.
- O que você vê?

- Eu não sei. - disse ele colocando a cartola na cabeça e se erguendo do banco.

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