A Nova Passageira caminhava sorridente
e cantarolante, com a cabeça nas nuvens. Nem percebera que, ao seu lado, a
Pequena Ladra deixava cair pelo caminho gotas de lágrimas grossas. Gotas para
satisfazer a alegria de Xaphan.
Pararam as duas, de repente.
- Aonde é mesmo? - perguntou
a Nova Passageira.
- Eu achava que era por
aqui...
- Por que você está
chorando? - perguntou, abaixando-se.
A Pequena Ladra nada disse,
mas olhou intenso dentro dos olhos castanhos da outra menina. Foi
suficiente para que a Nova Passageira parasse de sorrir e transformasse o seu
semblante.
- Por que são roxos?
- Não eram.
- Por que são?
- Não sei.
- Sua mãe já lhe levou ao
médico?
- Minha mãe morreu. - mentiu
a mocinha.
- De quê?
Não respondeu. Não respondeu
e retomou o passo. O “tác-tác” das botas era tão forte e tão firme que qualquer
um diria que ela sabia exatamente para onde estava indo. A Nova Passageira, por
sua vez, não a acompanhou. Estava rígida, agachada e com uma expressão de
horror. E assim ficou.
A Pequena Ladra já não
chorava, nem sequer pensava em Xaphan. Dobrara à esquerda na primeira esquina e
logo escutou o barulho do trem. Foi o suficiente para retomar seu foco.
Ademais, ria baixinho, com alguns leves picos de tosse: havia pegado a chave
daquela menina morena doida e estava ansiosa para testar. Deveria ser essa a
chave que a libertaria das engrenagens!
O céu avermelhado
petrificava o interior da mocinha de medo. A respiração estava cada vez mais
difícil de manter compassadamente. Parou por alguns segundos, descansou com as
mãos nos joelhos. A cabeça baixa tentando recuperar as forças daqueles anos
todos.
De repente, um som
inconfundível fez a coluna da Pequena Ladra se endireitar. Uma fumaça branca
riscava o arrebol à noroeste mostrando exatamente que direção tomar. A estação de trem
estava ali e logo iria voltar para os trilhos onde costumava dormir, em meio aos lagartos e à vista das casas abandonadas com vidros engordurados.
Começou a correr. As pessoas
da cidade, então, finalmente, retomaram seus movimentos. Como se nunca tivessem sido estátuas, a vida continuava e a Pequena Ladra estava correndo para voltar a
viver o futuro, distante daqueles todos, buscando preocupar-se apenas com as
chaves.
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