domingo, 5 de abril de 2015

Capítulo XIV



Caminhando perdida, duas mãos pousaram bruscas nos ombros da Pequena Ladra. Tentou correr, mas não conseguiu. Uma voz gélida surgiu pegajosa na orelha direita da mocinha para lhe dizer:
- Estou te cuidando. Preciso de você.
Marcando a mocinha com as unhas, aquele ser beijou-lhe a nuca, abaixo da orelha. A Pequena Ladra começou a chorar. Sabia que esse era o sinal. Fugir da Mulher Ruiva não adiantara de nada e agora ela estava batizada por Xaphan.
- Você sabe bem que tem uma saída, Pequena Ladra. Está na hora de você deixar de ser menina! Juntos, dominaremos os Sete Príncipes. Você sabe o que fazer.
Não deixando rastros de sua existência, o anjo caído desapareceu. A Pequena Ladra tentou respirar com calma, mas sentia cada vez mais dificuldade de manter sua saúde. Talvez devesse se juntar àquela situação... Talvez não devesse. Já não sabia mais se havia motivo de seguir fugindo, de conseguir encontrar a chave correta...
Precisava encontrar o Homem Cego e contar-lhe!... Ou permanecer muda. Certamente não seria correto envolver aquele homem bom à profundeza podre da marca que agora carregava.
Finalmente, então, a mocinha conseguiu se mover. Deu dois passos à frente e parou. Olhou para a esquerda e as pessoas estavam paradas, como que hipnotizadas. Igual às pessoas que aguardavam o trem partir na estação. Olhou para a direita e não havia ninguém. O único movimento vinha do balão no céu.
Cutucou uma mocinha qualquer e percebeu, depois, que era a Nova Passageira. Um tanto aliviada, a Pequena Ladra tentou acordá-la daquele estado congelado, mas nada conseguiu. Segurou a sua mão e começou a andar. Inexplicavelmente, a Nova Passageira seguiu caminhando junto.
- Vamos voltar para a estação? Vamos... Eu te levo... Vamos!

Um silêncio afrontador mergulhava em fagulhas dentro dos ouvidos da Pequena Ladra. Ela ainda não havia conseguido parar de chorar. Precisava encontrar o Homem Cego. Queria rever a sua mãe...

Nenhum comentário:

Postar um comentário